Hoje falarei um pouquinho sobre os bastidores da harmonização orofacial. Vivemos nos sentindo numa arena de batalha. Explico: o cirurgião dentista já utiliza toxina botulínica e preenchedores faciais há mais de 20 anos, porém, desde 2014, por conta das resoluções do CFO 145/14 e 146/14, esses procedimentos acabaram se tornando mais populares entre os dentistas, passando pela resolução CFO 176/16 que visou regulamentar um pouco mais essas questões, culminando no reconhecimento como especialidade no começo deste ano, através da resolução CFO 198/19. Sendo assim, o único profissional de saúde que pode ser referenciado como especialista em harmonização orofacial é o cirurgião dentista, haja visto que essa especialidade não é da área médica.
Com esse “boom”, milhares de dentistas perceberam essa nova possibilidade de nicho de atendimento e deu-se início à febre de novos profissionais focados em estética orofacial. Destaco a importância da autoresponsabilidade, ou seja, existem cursos de imersão de final de semana, cursos de 1 semana, residências, especializações etc. Cada profissional deve parar de culpar os cursos pela sua falta de preparo e passar a atribuir a si a responsabilidade de escolher o curso necessário para complementar seus conhecimentos, para que tenha, com toda humildade, a capacidade real de fazer diagnósticos, planejamentos e manejo de intercorrências. Quando tudo parecia flores, uma guerra declarada se instaurou: Os líderes das sociedades médicas, principalmente de dermatologia e de cirurgia plástica ingressaram na justiça tentando proibir o “improibível”.
Além de investirem em campanhas para macular a imagem do Cirurgião Dentista, trazendo à tona insucessos de profissionais mal preparados (ou não) e que tiveram intercorrências. Além da Lei Federal 5081/66 já dar a prerrogativa legal do CD trabalhar na face, contamos com a especialidade de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, que possui como rotina procedimentos que não são na cavidade oral, como por exemplo redução de fraturas de assoalho de órbita, ossos nasais, osso zigomático e por ai vai, mas como estes especialistas são uma minoria, acaba gerando um desconhecimento acerca da formação do Cirurgião Dentista, e essa falta de informação, gera pré julgamentos superficiais, que não traduzem a verdade sobre o profissional.
Para acabar com quaisquer dúvidas sobre a atuação destes profissionais, quando acontecem politraumas de face em ambiente hospitalar, bem como outras intervenções na base de crânio, como artroscopia de ATM (articulação temporomandibular), são normalmente atendidos por cirurgiões dentistas bucomaxilofaciais e eventualmente, por médicos de cabeça e pescoço, ficando claro a possibilidade de atuação de ambos os profissionais nesta área anatômica. Inclusive, esse fato gerou um movimento para uma eventual mudança de nomenclatura para definir a atuação do Cirurgião Dentista, para médico orofacial ou cirurgião orofacial, visando deixar claro para a sociedade que dentista não precisa cuidar só de dentes. Vale lembrar que a Lei 12842, conhecida como a lei do “Ato médico” é de 2013, ou seja, a regulamentação é bem posterior à Lei Federal 5081 que regulamenta a Odontologia, que é de 1966, além de estar explícito em seu parágrafo sexto, com a seguinte redação: “O disposto deste artigo não se aplica à Odontologia, no âmbito de sua área de atuação. ” Só existe guerra quando a mentalidade dos líderes é de escassez, essa que encara o colega como concorrente. É notória tal mentalidade quando olhamos para os eventos de dermatologia ou cirurgia plástica e vemos o seguinte comportamento: o profissional de outra especialidade não pode se inscrever em seus congressos, quiçá de outra área do conhecimento, bem como seus membros também ficam proibidos de palestrarem em eventos que não sejam da especialidade.
Como resolver isso? Estimulando a guerra? Chamando esses líderes para o ringue? Claro que não. Ao entender a natureza humana, fica evidente que a reação destes é motivada pelo medo, onde a real preocupação é a reserva de mercado. Isso explica os comportamentos retrógrados para feudos profissionais. Que fique claro que o erro pode acontecer de qualquer lado, com qualquer profissional. Erro médico mata, mas não é por isso que iremos apontar o dedo para desqualificar essa profissão tão linda que é a medicina. Ao compararmos dentistas com boa formação e médicos com boa formação, apesar de diferentes, veremos que não há diferença na condução de procedimentos estéticos orofaciais. Erros médicos e odontológicos devem ser punidos pelos seus respectivos órgãos.
O amor verdadeiro é o remédio. Sempre foi e sempre será. É através do amor que a luz da verdade e do conhecimento aparecerão. O amor gera nos profissionais um comportamento de abundância ao invés de escassez, com isso, teremos compartilhamento de ideias e sinergia entre os profissionais. Enxergaremos os profissionais como parceiros e não como concorrentes. Amar o que fazemos gera o brilho nos olhos, e é esse brilho que gera a união, profissionais altruístas e que vestem a camisa de uma saúde integral, onde todos tem muito a ensinar e aprender com todos! Isso sim é harmonia, a saúde em sinergia. Essa é a magia e o verdadeiro remédio contra mentes pequenas, que no fundo, são apenas imaturas.
Dessa maneira, aí sim, os verdadeiros beneficiados com isso serão os pacientes e toda a sociedade, pois teremos profissionais mais bem formados e preparados. Quer brigar? Brigue pela saúde e pela melhor formação dos profissionais.
Autor: Eduardo Picanço
Idealizador do Self Manager – Sistema de Gestão Inteligente; Fellow Ellect da Academy of Dentistry International (ADI); Imortal pela Academia Brasileira de Odontologia (AcBO) – cadeira 16; Imortal pela Academia de Odontologia do Rio de Janeiro (AORJ) – cadeira 10; Diretor Científico da AORJ; Palestrante convidado em Harvard Faculty Club; Mestre em Reabilitação Oral e Implantodontia; Especialista em Implantodontia e Harmonização Orofacial.